Visita MUSAMI-Ecoparque e Agraçor | 6 OUT | São Miguel

E se os Açores tivessem uma economia circular?

6 de outubro | 9:00 MUSAMI – Ecoparque, Canada das Murtas |  15:00-16:00 Agraçor

 

Num dia dedicado ao problema dos resíduos, os candidatos José Azevedo e Ana Filipa Castro visitaram o Ecoparque de São Miguel, para discutir as questões da gestão dos resíduos na maior ilha dos Açores. À tarde visitaram uma unidade privada de tratamento e valorização de resíduos orgânicos, associada a valências pecuárias industriais.

O objetivo foi alertar para a necessidade de dar prioridade à redução e reutilização dos resíduos, e de estruturar a produção considerando todo o ciclo de vida dos produtos.

E como foi este dia?

“O dia de hoje foi dedicado aos resíduos. Visitámos o Ecoparque de São Miguel (as instalações geridas pela Associação de Municípios para a gestão de resíduos na ilha) e a unidade de tratamento de resíduos orgânicos da Agraçor.
Este post é sobre a primeira visita.

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Fiquei muito bem impressionado com a eficiência e o profissionalismo da gestão da MUSAMI. Desde a última vez que lá estive foram adicionadas duas valências: aproveitamento do biogás para produção de energia elétrica e o processo de tratamento das águas residuais por osmose inversa. Para além de gerir o aterro sanitário (de onde vem o biogás e a água residual) o Ecoparque recebe e processa todos os resíduos dos ecopontos. Tem também uma valência de compostagem dos resíduos de jardim, que recebe continuamente sem custos. Fiquei a saber que a célula do aterro sanitário vai ser fechada em breve, estando já uma outra pronta para a substituir. Numas instalações que tratam de “lixo” surpreende a organização e a limpeza. Não admira: o sistema de gestão de qualidade é certificado pela norma ISO 9001.
Falámos, naturalmente, da incineradora. Ouvimos os argumentos técnicos e expusemos as nossas preocupações. Pedimos (e já recebemos) informação adicional. Vamos analisar os documentos e, em função disso, verificar a necessidade de modificar a nossa posição.
O LIVRE é um partido ecologista. O nosso entendimento da ecologia política inclui a promoção de uma cultura de sustentabilidade, respeito pela natureza, razoabilidade na utilização de recursos, e prolongamento do bem-estar natural para as gerações futuras. Mas entendemos que as posições políticas (e por maioria de razão as que têm que ver com a ecologia) devem ter um apoio técnico e científico. Antes do fim da campanha tomaremos posição sobre este assunto.”

 

“Fomos também à Agraçor, mais especificamente à sua unidade de tratamento de resíduos orgânicos.

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O negócio da Agraçor é a suinicultura industrial, tendo em permanência cerca de 18.000 animais que comem mensalmente 700 toneladas de ração. É fácil de perceber que este volume de animais gera uma quantidade elevada de dejetos que precisam de ser tratados.
O sistema mais comum de tratamento são as lagoas de retenção, associadas a estações de tratamento de águas residuais. É um sistema que requer grandes extensões de terreno e que está tristemente associado a episódios graves e recorrentes de poluição em rios e linhas de água.
A Agraçor foi pioneira em Portugal na implementação de um sistema de tratamento por fermentação, seguida da produção de composto. Nas suas instalações dois fermentadores de 1500 m3 produzem continuamente metano suficiente para gerar toda a energia elétrica consumida na exploração, e ainda exportar alguma para a rede pública. As águas residuais seguem para uma ETAR, estando em projeto um tratamento terciário com plantas que permita o reaproveitamento da água. As lamas são metabolizadas por minhocas, num processo de vermicompostagem que resulta num composto excelente para a agricultura.
No LIVRE gostamos de pioneiros, temos que confessar. E a Agraçor responde a dois pontos do nosso Programa Eleitoral: é um exemplo de economia circular (na qual um produtor se responsabiliza pelas externalidades do seu negócio) e de autonomia energética (com uma entidade a produzir a sua própria eletricidade).
Não gostamos de tudo na Agraçor: não gostamos de criações industriais de animais, mesmo quando cumprem as regras europeias de bem-estar animal, e sabemos que há queixas de vizinhos quanto a maus cheiros provenientes da exploração. Mas entendemos que é necessário reconhecer e valorizar o que se faz de bom na Região.”

 

Do nosso Programa Eleitoral:

CONSUMIR COM RESPONSABILIDADE PARA DIMINUIR OS RESÍDUOS

A Região dispõe de um regime geral e de um plano estratégico de prevenção e gestão de resíduos. Apesar de estes documentos reconhecerem o princípio da hierarquia de gestão de resíduos, que tem como primeiros pontos a redução e a reutilização, os investimentos regionais têm sido concentrados na eliminação em aterros e, em menor grau, na reciclagem. Os Açores estão por isso muito atrás das metas europeias, sobretudo se tivermos em conta as recomendações recentes do Comité de Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar do Parlamento Europeu.

Este quadro negativo é acentuado pela recente decisão de construção de duas incineradoras, uma já em funcionamento na Terceira e outra em concurso para São Miguel, num investimento total superior a 100 milhões de euros. Esta opção, que foi muito criticada pelas associações ambientalistas açorianas, colocará sérios obstáculos a uma política consequente de prevenção de resíduos a nível regional.

Existem, nos Açores, exemplos isolados de boas práticas, desde uma empresa que utiliza os seus resíduos orgânicos para produzir biogás e composto até uma Câmara Municipal que tem implementado um sistema de tratamento de resíduos urbanos por vermicompostagem. Infelizmente, outras iniciativas de mérito, como a de produção de iogurtes em embalagens reutilizáveis, falharam.

Para diminuir os resíduos, o LIVRE defende:

  1. REDUZIR E REUTILIZAR, E SÓ DEPOIS RECICLAR

Dar prioridade à prevenção de produção de resíduos, levando à generalização da utilização de embalagens de vidro reutilizáveis em bebidas e a promoção de venda a granel de produtos não perecíveis.

  1. SISTEMAS DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

As incineradoras não devem desviar os Açores de seguir as boas práticas internacionais em matéria de resíduos. Um programa vigoroso de prevenção dos resíduos e de reciclagem dos que venham a ser produzidos, associado ao tratamento mecânico e biológico dos resíduos orgânicos deve reduzir a pressão sobre os aterros e eliminar a necessidade de incineração.