Deixem a democracia funcionar, a bem do povo grego e do futuro da União

Deixem a democracia funcionar, a bem do povo grego e do futuro da União

LIVRE sobre as próximas eleições na Grécia

Após três tentativas falhadas para eleger um presidente da República Helénica, o atual governo grego chegou ao seu fim e deverão ocorrer eleições antecipadas na Grécia até ao fim do próximo mês de janeiro. Esta notícia foi recebida com perturbação nos mercados internacionais e na Comissão Europeia, desconfiança em muitas das chancelarias europeias e reserva por parte das instituições credoras europeias e internacionais — ao que parece, o FMI terá já suspendido negociações para a sexta tranche de ajuda ao estado grego — pela possibilidade de que as próximas eleições sejam ganhas por um partido anti-austeridade, o SYRIZA, ou Coligação da Esquerda Radical, que está em primeiro lugar nas sondagens.

Já no passado os responsáveis políticos do nosso continente agravaram a crise na Grécia e na Europa ao reagirem contra a possibilidade de escolha democrática por parte dos cidadãos gregos — lembre-se a bem sucedida chantagem de Sarkozy e Merkel contra a realização de um referendo na Grécia. Como no passado, estas atitudes serão vistas pelos cidadãos dos países a quem elas dizem respeito como sinais de arrogância e rejeitadas como interferência nas suas escolhas livres.

A Europa não precisa que se aprofunde o fosso entre Norte e Sul, e muito menos entre cidadãos e governantes. O LIVRE apela às autoridades europeias para que respeitem o funcionamento da democracia na Grécia enquanto ele se der no quadro de um estado de direito. A possibilidade de constituição de um governo anti-austeridade num estado-membro da União Europeia não deve ser vista como um tabu, mas antes como o resultado natural de anos de políticas erradas. A Grécia precisa — como precisam outros países da zona euro, e em particular Portugal — de um modelo de desenvolvimento que lhe permita sair da crise em que se encontra de forma sustentada e solidária. Todos os países europeus têm o seu papel a desempenhar numa economia que se deseja complementar, desde que lhes seja dada a oportunidade de refazerem as suas sociedades depois de anos de austeridade. A grande maioria dos cidadãos gregos procura construir esse caminho no quadro da zona euro e do projeto europeu, sem pressões e no quadro da obrigação de igualdade entre os estados-membros consagrada nos tratados da União.

O ano que aí vem terá eleições em vários dos países da crise: desde logo, na Grécia, na Espanha e em Portugal. A União Europeia precisa de ver representados — inclusivé ao nível governativo — os milhões de cidadãos que procuram uma alternativa às atuais políticas de austeridade num quadro democrático, cívico e de defesa dos seus valores fundadores e dos princípios da Carta Europeia dos Direitos Fundamentais, tão esquecidos nos últimos anos.

O LIVRE faz votos — e empenhar-se-á na medida do que lhe compete — para que a eleição, em estados-membros da União, de governos opostos à austeridade, comprometidos com políticas democráticas e progressistas e determinados no combate à lógica do Tratado Orçamental, possa constituir uma ocasião de reconstrução de um projeto europeu livre, justo e solidário.